sábado, novembro 07, 2009

Ser ou não ser…

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Tradução de Millôr Fernandes

 

Ser ou não ser - eis a questão.

Será mais nobre sofrer na alma. Pedradas e flechadas do destino feroz ou pergar em armas contra o mar de angústias e, combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir; Só isso. E com o sono - dizem - extinguir dores do coração e as mil mazelas naturais a que a carne é sujeita; eis uma consumação ardentemente desejável. Morrer – dormir…

Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo! Os sonhos que hão de vir no sono da morte quando tivermos escapado ao tumulto vital nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão que dá à desventura uma vida tão longa. Pois quem suportaria os açoites e os insultos do mundo, a afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor humilhado, as delongas da lei, a prepotência do mando, e o achincalhe que o mérito paciênte recebe dos inúteis, podendo, ele próprio, encontrar seu repouso com um simples punhal? Quem agüentaria fardos, gemendo e suando numa vida servil,senão porque o terror de alguma coisa após a morte - O país não descoberto, de cujos confins jamais voltou nenhum viajante - Nos confunde a vontade, nos faz preferir e suportar os males que já temos, a fugirmos pra outros que desconhecemos? E assim a reflexão faz todos nós covardes. E assim o matiz natural da decisão Se transforma no doentio pálido do pensamento. E empreitadas de vigor e coragem, refletidas demais, saem de seu caminho, perdem o nome de ação.

(...)